Mateus
3:9
Percebemos ainda hoje, mesmo com o
progresso dos costumes, velho hábito de ligar a identidade de alguém à sua
ascendência familiar, como se as células que se sucedessem na formação dos
tecidos trouxessem consigo atributos de moralidade, inteligência ou
discernimento.
A ciência moderna já demonstrou que a
liberdade que o indivíduo possui para moldar a própria personalidade fragiliza,
quase completamente, os antigos conceitos relacionados aos grilhões das
heranças genéticas.
É dessa forma que poderemos
encontrar entre pais celerados verdadeiras joias de doçura e sensibilidade na
figura de seus filhos, tanto quanto o devotamento, o carinho e o afeto, por
vezes, são incapazes de reverter, totalmente, a natureza embrutecida de seus
rebentos e identificamos pedras de sentimento vicejando por entre as flores da
dedicação e do sacrifício.
A compreensão atual nos coloca
diante da realidade de que não podemos transferir méritos e culpas entre as
gerações, sem que com isso infrinjamos os mais sagrados princípios de justiça e
do livre arbítrio, que estabelecem a cada um segundo suas obras.
Não importa a fortuna que tenhas
herdado, a diligência e o esforço não se apartarão de sua pauta de
responsabilidades, tanto quanto a pauperismo do berço não implica a
impossibilidade de multiplicar o pouco que lhe foi dado em proveito de muitos.
Se a inteligência compõe a sua bagatela
de valores, receberá quase certamente a missão do ensino e do esclarecimento,
mas, se a lucidez do raciocínio é pálida em sua figuração, poderás iluminar a
própria estrada e a de muitos com a luz do exemplo e da gratidão.
Todos os bens e recursos que a
Divina Providência dispensa a cada um de nós representam esperanças de
edificações maiores no campo do amor e do progresso e nunca caracteres de
preferências injustificáveis ou de distinções ilusórias.
À época do Cristo, muitos judeus,
como muitos na atualidade, julgavam-se preferidos em razão de sua vinculação
com aquele com quem Deus havia feito a primeira aliança, segundo a crença
vigente. Com isso, consideravam que a justiça vindoura para eles seria mais
branda do que com os gentios.
Tal equívoco foi de pronto rechaçado
por João, que lhes advertiu que clamar pela descendência, como critério de
justificação de ações que não se coadunassem com os ditames da fraternidade e
do amor, redundaria em esforço inútil.
Reconheçamos na advertência valiosa
orientação, para que, no que tange às nossas esperanças de felicidade futura,
saibamos edificar no presente sem olhar para o passado.
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