Aparência

“João usava veste de pelos de camelo e um cinto de couro em torno dos quadris; seu alimento era gafanhotos e mel silvestre.”

Mateus 3:4

            O julgamento dos olhos humanos frequentemente restringe-se ao que as manifestações da forma são capazes de expressar, utilizando-se da matéria perecível. Avalia-se, assim, uma falsa harmonia entre as expressões externas e as realidades internas.

            Se buscamos na multidão indivíduos de destaque, a vestimenta pode servir de critério revelador para a visão habituada ao cultivo das frivolidades.

            A saúde pode ser pré-julgada pela beleza dos órgãos externos, tanto quanto as posses convertem-se em medida de caráter e personalidade distintos.

            Utilizando-se pesos iguais a fim de auferir elementos diversos, o equívoco é quase o único resultado.

            Quantas vezes a seda e o linho bem trabalhados não servem para ocultar deformidades da alma? E quão freqüentes corpos esculturalmente perfeitos são revestimentos para corações de pedra, a acumular detritos em seu interior? Por vezes o acúmulo de bens resulta da ganância que se arroja sobre o patrimônio alheio em prejuízo dos valores da justiça.

            Não se quer dizer com isso que determinadas expressões internas alcançam o exterior de maneira inequívoca. Muitas vezes os andrajos são reflexo do desleixo e não marcas de humildade, tanto quanto a escassez pode ser filha da prodigalidade que esquece a prudência.

            Por essas razões, a descrição feita pelo evangelista é oportuna. Em se tratando dos costumes da época, o Batista destoava do comum dos cidadãos no vestir-se e no alimentar-se. E, embora alguns desses elementos pudessem se identificar mais ou menos com esta ou aquela seita que vicejava em sua época, não encontraremos aí elementos inequívocos para lhe retratar a grandeza moral.

            Em se tratando, portanto, das nossas possibilidades de avaliação, tomemos o presente versículo a conta de precioso aviso, de que as aparências nem sempre se revestirão de juiz perfeito a sentenciar a situação de seu portador, e esforcemo-nos para aliar, à percepção dos olhos, os cuidados do ouvido e a educação dos sentimentos, para que nos sirvamos dos exemplos reais de vida e progresso a nos auxiliar nos próprios passos.