"O evangelho, em sua expressão total, é um vasto caminho ascensional, cujo fim não poderemos atingir, legitimamente, sem o conhecimento e a aplicação de todos os detalhes. ... A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida."


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Livro Renúncia
2ª Parte - cap. III - Testemunhos de fé



Cogitações


“Então, Herodes, chamando secretamente os magos, averiguou junto a eles o tempo em que a estrela aparecera.”

Mateus 2:7

Muitas criaturas humanas inquirem sobre o tempo deste ou daquele evento, buscando elementos para ajustar suas ações quanto ao que a vida lhes oferece de oportunidade e recursos. Recolhem do passado e projetam para o futuro. Avaliam o ontem para esperar do amanhã.
Se devemos considerar justa toda disposição de edificar e construir, não podemos esquecer que o tempo é patrimônio exclusivo da Divindade, concedido aos seus tutelados, a fim de realizarmos nele a construção do bem que se reverterá em benefícios para o próprio agente, ou do mal que se converterá em escolhos que terão mais tarde de serem removidos, não raro às custas de suor e lágrimas.
Ninguém poderá precisar com certeza quanto tempo lhe resta para agir, seja em benefício próprio ou de outrem, e qualquer um que espere encontrar sinais que lhe indiquem o sentido que a estrada do porvir tomará, perceberá cedo que os destinos humanos conservam em si uma variedade muito grande de caminhos e, frequentemente o que almejamos não será o que a curva do futuro nos reserva.
É natural que assim o seja, visto que nossas incertezas derivam quase sempre do fato de que colocamos nossa atenção no ontem e nossas esperanças no amanhã, esquecendo de que cada qual é herdeiro da imortalidade, que não representa adiamento indefinido de responsabilidades de progresso, tão pouco oferecerá justificativa para posturas equivocadas, visto que a consciência de cada um servirá de registro indelével dos desequilíbrios que causamos, seja no campo externo seja no campo interno e que deverão ser devidamente reajustados.
O hoje, portanto, surge como o tempo que carrega a herança do que fomos e as oportunidades do que seremos. É nele que o homem reconhece-se como herdeiro do seu passado e construtor do seu futuro. Mas, ninguém edificará além das próprias possibilidades e agiremos sempre de acordo com nosso campo de visão, interesses e forças.
Muitos são os que perscrutam o passado em busca de justificativas para o que são, quando a atitude mais sensata seria submeter o que se é ao escrutínio da consciência a fim de buscar atingir o que se deseja.
Numerosa multidão indaga sobre o ontem anotando-lhe cada detalhe, permanecendo inconsciente acerca das possibilidades e direções que o hoje lhes oferece, convertendo-se em escravos de si mesmo.
Algemam-se vasto contingente às situações e acontecimentos pelo medo ou pela dor, esquecendo que o ontem é página irremediavelmente escrita. Nem uma vírgula será subtraída do que houver sido registrado, muito embora rios de lágrima do pretérito podem ser canalizados para as raízes das flores da caridade que germinam.
Por essa razão, encontraremos os Herodes de ontem e de hoje, carregados de medos e incertezas, inquirindo sobre o passado sem cogitar de mudanças no presente.
A luz do Evangelho que brilhou ontem continuará a brilhar hoje simbolizando o chamado a que cada um tome o caminho da própria iluminação libertando-se do homem velho e fazendo surgir o homem novo. Mas, se preferirmos ficar nas sombras dos hábitos e dos apegos, dos equívocos e da ignorância, por mais que a luz brilhe, permaneceremos imersos nas sombras de nós mesmos.

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