"O evangelho, em sua expressão total, é um vasto caminho ascensional, cujo fim não poderemos atingir, legitimamente, sem o conhecimento e a aplicação de todos os detalhes. ... A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida."


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Livro Renúncia
2ª Parte - cap. III - Testemunhos de fé



Edificação constante


“Desde então, Jesus começou a proclamar e a dizer: arrependei-vos1, pois está próximo o Reino dos Céus.”

Mateus 4:17


            Grande multidão de pessoas, contemplando a paisagem desolada das construções morais que o homem, ainda distante dos climas superiores da vida, erige em torno de si, anseia pela chegada do Reino de Paz e Harmonia que Jesus ofereceu como promessa, desde os dias inicias de Sua pregação.

            Conquanto essa expectativa seja fundamentada na fé e na confiança, derivadas da certeza da Paternidade Divina que a tudo abarca, recordemos que o Mestre precedeu o aviso dessa chegada com o convite à mudança de pensamentos, de perspectivas e de sentimentos.

            Ninguém poderá adentrar uma cidade ao qual se dirija se tomar a estrada errada, tanto quando o viajor não logrará o término da jornada sem se precaver contra os perigos dos caminhos equivocados. Necessário é, portanto, que alinhemos nossos passos ao que esperamos atingir, edificando em nós o que desejamos presenciar no mundo.

            Observemos que o Divino Amigo não exigiu como preparação para   chegada do Reino dos Céus drásticas mudanças nos costumes sociais, não requisitou exércitos para travar lutas, nem reclamou o concurso das riquezas perecíveis. Pediu simplesmente: arrependei-vos. E, muito embora tal solicitação possa parecer simplória para uns e inadequada para outros, é precisamente neste ponto que reside o maior dos desafios, ainda não vencido totalmente, mesmo com 2000 anos passados desde o surgimento da Boa Nova. Isso porque ninguém poderá, sem prejuízo para a própria consciência, considerar plenamente atendidos todos os elementos que lhe compete diante das leis eternas.

            Se o egoísmo contumaz já não nos aprisiona a alma, devemos aprender a potencializar os recursos que nos são emprestados a fim de multiplicá-los em favor da vida.

            Não havendo mais espaço em nosso mundo íntimo para as ilusões do orgulho e da vaidade, prosseguiremos com a tarefa de adestrar o coração para enxergar o bem e a virtude onde quer que estejamos.

            Ainda que nossa bagatela de cultura e informação tenha atingido o limiar da sabedoria, teremos nas mentes jovens a sementeira a aguardar o cultivo através do nosso exemplo.

            Reconheçamos, assim, que a estagnação e o conformismo representam grandes obstáculos ao efetivo atendimento à exortação do Cristo.

            Se o Pai nos concedeu o dia de hoje como campo de ação e reflexão, meditemos em nossos passos e, ajustando nossa conduta à bússola do Evangelho, caminhemos na direção do Reino dos Céus que nos aguarda a edificação na dinâmica da vida em cada instante.

 

(1)  Notas históricas e linguísticas:

ð  A palavra arrependimento, registrada neste versículo, possui um significado peculiar em nossa sociedade, frequentemente carregado de peso e culpa. Esse termo é a tradução para o português do vocábulo grego μετανοέω que deriva de μετάνοια (metánoia) que consta dos manuscritos originais nos quais as traduções se apoiam. 

ð  Metanóia” é a junção de dois termos “meta” e “nóia”, o primeiro significando mudança, ampliação e o segundo pensamento, idéia, perspectiva. É, portanto, uma mudança de pensamento, uma ampliação de perspectivas uma visão mais abrangente, sem que haja diretamente uma conotação de peso ou culpa.

ð  O convite do Cristo é, portanto, para que ampliemos nossa visão de mundo para que ela passe a abarcar outros elementos que prenunciariam a chegada do Reino dos Céus. Sem essa ampliação, continuaremos a considerar a Boa Nova a partir das velhas concepções, acorrentando-nos ao dogmatismo e aos impositivos formais sem considerar que o Evangelho é caminho libertador das almas e que para trilhá-lo, preciso é que passemos a enxergar novos valores sem os quais permaneceremos nas sombras de nossos atavismos.

 

Saulo Cesar.

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