“Desde então, Jesus começou a
proclamar e a dizer: arrependei-vos1, pois está próximo o Reino dos Céus.”
Mateus 4:17
Grande
multidão de pessoas, contemplando a paisagem desolada das construções morais
que o homem, ainda distante dos climas superiores da vida, erige em torno de
si, anseia pela chegada do Reino de Paz e Harmonia que Jesus ofereceu como
promessa, desde os dias inicias de Sua pregação.
Conquanto essa expectativa seja fundamentada na fé e na confiança, derivadas da certeza da Paternidade Divina que a tudo abarca, recordemos que o Mestre precedeu o aviso dessa chegada com o convite à mudança de pensamentos, de perspectivas e de sentimentos.
Ninguém poderá adentrar uma cidade ao qual se dirija se tomar a estrada errada, tanto quando o viajor não logrará o término da jornada sem se precaver contra os perigos dos caminhos equivocados. Necessário é, portanto, que alinhemos nossos passos ao que esperamos atingir, edificando em nós o que desejamos presenciar no mundo.
Observemos
que o Divino Amigo não exigiu como preparação para chegada do Reino dos Céus drásticas mudanças
nos costumes sociais, não requisitou exércitos para travar lutas, nem reclamou o
concurso das riquezas perecíveis. Pediu simplesmente: arrependei-vos. E, muito
embora tal solicitação possa parecer simplória para uns e inadequada para
outros, é precisamente neste ponto que reside o maior dos desafios, ainda não
vencido totalmente, mesmo com 2000 anos passados desde o surgimento da Boa
Nova. Isso porque ninguém poderá, sem prejuízo para a própria consciência,
considerar plenamente atendidos todos os elementos que lhe compete diante das
leis eternas.
Se
o egoísmo contumaz já não nos aprisiona a alma, devemos aprender a
potencializar os recursos que nos são emprestados a fim de multiplicá-los em
favor da vida.
Não
havendo mais espaço em nosso mundo íntimo para as ilusões do orgulho e da
vaidade, prosseguiremos com a tarefa de adestrar o coração para enxergar o bem
e a virtude onde quer que estejamos.
Ainda
que nossa bagatela de cultura e informação tenha atingido o limiar da
sabedoria, teremos nas mentes jovens a sementeira a aguardar o cultivo através do
nosso exemplo.
Reconheçamos,
assim, que a estagnação e o conformismo representam grandes obstáculos ao
efetivo atendimento à exortação do Cristo.
Se
o Pai nos concedeu o dia de hoje como campo de ação e reflexão, meditemos em
nossos passos e, ajustando nossa conduta à bússola do Evangelho, caminhemos na
direção do Reino dos Céus que nos aguarda a edificação na dinâmica da vida em
cada instante.
(1) Notas
históricas e linguísticas:
ð A
palavra arrependimento, registrada neste versículo, possui um significado
peculiar em nossa sociedade, frequentemente carregado de peso e culpa. Esse
termo é a tradução para o português do vocábulo grego μετανοέω que deriva de μετάνοια (metánoia) que consta dos manuscritos originais nos quais as
traduções se apoiam.
ð “Metanóia” é a junção de dois termos “meta”
e “nóia”, o primeiro significando mudança, ampliação e o segundo pensamento,
idéia, perspectiva. É, portanto, uma mudança de pensamento, uma ampliação de
perspectivas uma visão mais abrangente, sem que haja diretamente uma conotação
de peso ou culpa.
ð O
convite do Cristo é, portanto, para que ampliemos nossa visão de mundo para que
ela passe a abarcar outros elementos que prenunciariam a chegada do Reino dos
Céus. Sem essa ampliação, continuaremos a considerar a Boa Nova a partir das
velhas concepções, acorrentando-nos ao dogmatismo e aos impositivos formais sem
considerar que o Evangelho é caminho libertador das almas e que para trilhá-lo,
preciso é que passemos a enxergar novos valores sem os quais permaneceremos nas
sombras de nossos atavismos.
Saulo Cesar.
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