Basta

"Então Jesus lhe disse: Vai-te satanás, pois está escrito, adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto"

Mateus 4:10

     Conquanto o progresso seja lei inexorável a sua aplicação não se faz de maneira linear e constante, principalmente quando enfocamos o ser humano em sua lide cotidiana contra os opositores da felicidade real, muitas vezes hospedados no seu próprio coração. 

     Vivemos em postura frequentemente vacilante, declinando desejos de melhorias, enquanto abrimos concessões, aqui e ali, aos hábitos do passado alegando razões circunstanciais que, longe de atenderem aos imperativos da análise sincera, representam compromissos com o comodismo e a manutenção do estado atual, protelando o passo definitivo na direção de dias melhores. 

     Aspiramos a conquista de novas virtudes, mas mantemos olhos e ouvidos abertos à futilidade e à maledicência, sob o pretexto de melhor conviver como se a fraternidade legítima exigisse a estagnação nos círculos dos enganos.

     Ansiamos realizações mais amplas no campo do serviço ao próximo ao mesmo tempo em que ocupamos grande parte do dia e da noite na satisfação dos interesses particulares, alegando imposições externas, esquecendo que no ciclo da existência, as horas são iguais para todos, diferindo apenas o uso que cada um lhes confere. 

     Elencamos comportamentos e posturas que gostaríamos de suprimir do rol de nossas ações, entretanto, quando requisitados ao esforço necessário a extirpá-los, revestimos a "boa intenção" com a faixa do "amanhã o farei", acreditando que existem circunstâncias mais oportunas para a mudança, olvidando que o que não é alterado no hoje, nunca o será no amanhã. 

     O Cristo, no Seu exemplo eterno para a redenção de nossas almas, legou-nos precioso ensino no versículo grafado pelo evangelista. Embora tenha admitido, por algum tempo, o contato com os elementos que representavam as provas onde tantos falharam, a fim de nos conferir a certeza que é possível vencê-las, chega o momento em que ele diz "vai-te" pondo fim a intromissão indébita da sombra no caminho da luz.

     Assim, aprendamos com Ele que, embora não seja esperado transformações de súbito que convertam homens falíveis em anjos celestes, compete a cada um a tarefa de dizer basta aos atavismos do pretérito, afastando os motivos de sofrimento e caminhando na direção de novas paisagens, pois, do contrário, continuaremos a perambular pelo deserto de realização e crescimento onde a plenitude será sempre paisagem distante da região onde marcamos nossos passos.

Saulo Cesar