"O evangelho, em sua expressão total, é um vasto caminho ascensional, cujo fim não poderemos atingir, legitimamente, sem o conhecimento e a aplicação de todos os detalhes. ... A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida."


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Livro Renúncia
2ª Parte - cap. III - Testemunhos de fé



Amparo




"Ao ouvir que João fora entregue à prisão, retirou-se para a Galiléia"

Mateus 4:12

            Muitas vezes a criatura humana procura o concurso do alto acreditando que ele virá na forma de absolvição imerecida ou de conivência irresponsável, esquecendo-se de que no cômputo da Justiça Divina, muito embora a misericórdia atue sempre para equilibrar recursos e exigências, considerando a capacidade de aproveitamento de cada indivíduo nas experiências em que estagia, o equilíbrio dos elementos, circunstâncias e sentimentos será a porta libertadora que cada um buscará cruzar a fim de ascender para novos patamares de redenção e trabalho.

         Afetos hoje desrespeitados volverão ao nosso caminho em formas variadas de compromissos e abnegação.

            Lesões e subtrações ao patrimônio alheio serão, cedo ou tarde, convite a esforço  extremado em atividades diversas.

            Oportunidades desperdiçadas no hoje converter-se-ão em objetivos buscados a custa de tempo precioso e de escassas energias.

           Tanto quanto lesões auto infringidas ao corpo resultarão em feridas a exigirem cuidados para a adequada cicatrização, equívocos do passado nos convocarão ao sagrado ministério do trabalho e do amor a fim de que alcancemos a paz que resulta da consciência quites com a vida.

            Diante dessa realidade, muitos de nós apressadamente concluiriam que o amparo do alto se converte unicamente no malhete da justiça a sentenciar a pena conforme o delito. Refletindo, contudo, acerca da infinita fonte do bem que nos envolve, perceberemos que se o Pai nos oferece a possibilidade da reparação como acesso ao progresso, Ele nunca nos faltará com o amparo e a força para vencermos os obstáculos e desafios que a vida nos oferecerá a conta de escola de nossas almas.

            Por essa razão quando analisamos com cuidado a postura do Cristo diante de João Batista, o Seu precursor, quando chegou o derradeiro momento em que este deveria ir ao encontro do próprio martírio, reconheceremos não o descaso ou a indiferença do Mestre ante o amigo dos primeiros dias. Lembremos-nos que a divina missão do Cristo destinava-se ao conjunto da humanidade e que seu verbo deveria ressoar pelos corredores da eternidade. Ele, entretanto, antes do início de seu ministério público, como assinala o evangelista, foi primeiro ao encontro do Batista oferecendo-lhe a certeza de que havia chegado o momento em que a luz brilharia para os povos através de Seu exemplo e que os horizontes da esperança se estenderiam muito além dos portões frios da morte do corpo. João poderia, assim, seguir seu caminho, com a certeza de dias novos a se abrirem e não sem o abraço do Divino Amigo e a Sua palavra de conforto e fé.

            Assim, quando a vida lhe cobrar tributos de sacrifício ou oferecer-lhe a taça de fel que deverá ser vertida até a derradeira gota, rememora atentamente os dias pretéritos e encontrarás, invariavelmente, a mão de Deus cultivando em teu íntimo a semente de vida nova, cujos frutos colherás, mais tarde, sob a forma de bênçãos e paz, e caminha resoluto e confiante de que recebestes, nas provas da vida, as chaves da própria libertação.

Saulo Cesar

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