"O evangelho, em sua expressão total, é um vasto caminho ascensional, cujo fim não poderemos atingir, legitimamente, sem o conhecimento e a aplicação de todos os detalhes. ... A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida."


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Livro Renúncia
2ª Parte - cap. III - Testemunhos de fé



Paternidade Divina

Aproximando-se o tentador, lhe disse: Se és filho de Deus, diz para que essas pedras se tornem pães.”

Mateus 4:3
 

Na condição ainda de aprendizes que estagiam nas primeiras séries da escola da vida, frequentemente caímos no equívoco de tomar o currículo de experiências pelas quais temos que passar, a fim de gravar verdadeiramente as lições que nos habilitarão a prosseguir na estrada da edificação de nós mesmos, como algo que deva se ajustar a estreiteza de nossas concepções, olvidando que a função do educandário é sempre a de mover o educando do estado em que se encontra para novos patamares de realizações e conquistas.

            Por essa razão, enquanto navegarmos nas águas calmas da conveniência e do conforto, consideraremos que tudo segue conforme o esperado. Basta, contudo, que novas situações se formem exigindo de nós algo mais, ou o desenvolvimento de outras perspectivas, que nos apressamos a despender energia no sentido de estabilizarmos nossa conduta no estágio primário.

            Um amigo nos exige maior dose de compreensão e tolerância? Transformamos a necessidade de cooperar em distanciamento confortante.

            Recursos se escasseiam oferecendo-nos a oportunidade de desenvolver novas posturas ante os dons que a Providência Divina nos empresta? Aferramo-nos ao que temos, lutando para manter a posse muitas vezes à custa de pesados compromissos de consciência.

            A compreensão e o afeto nos fogem? Apressamos em abandonar as convicções e os ideais a fim de converter a opinião alheia pela bajulatória mediocrizante.

            Restabelecida a condição inicial pelas vias das concessões criminosas ou da indiferença culposa, há ainda os que se consideram, por isso mesmo, beneficiados pela Paternidade Divina olvidando que o compromisso de autotransformação, quando não observado no tempo adequado, retorna mais tarde com força ampliada.

            Neste ponto, devemos reconhecer que Deus não intenta a formação de filhos lenientes e pusilânimes, mas espíritos capazes de cooperar com Ele na edificação do Seu Reino sobre a Terra, não se furtando a aplicação da prova educativa ou da correção libertadora.

            Acreditar que o Pai se debruçará no atendimento aos caprichos de Seus filhos é tomar o Senhor de todas as coisas à conta de servente inconsequente.

            Na medida em que o homem caminha na senda do amor e da sabedoria, aprenderá a reconhecer que Deus saberá sempre nos oferecer aquilo de que necessitamos, e essa compreensão fortalecerá o vínculo entre criatura e Criador pelos elos sagrados da fé.

            É interessante notar que no episódio figurativo em que o Cristo se defronta com aquele que tenta é precisamente essa relação entre o filho e o Pai que se converte em foco de sua atuação. Condicionando o reconhecimento da Paternidade ao atendimento dos interesses imediatos, ele lança seu desafio “Se és filho de Deus...”

            Aprendamos com Jesus a reconhecer-nos filhos de Deus em todas as circunstâncias e não cairemos no abismo da dúvida que nos afasta do Pai sem que o Pai jamais se afaste de nós.
 
Saulo Cesar

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